quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Profissão Repórter mostra o caos na saúde, mas não mostra o contexto

A reportagem da Globo mostra problemas nas áreas da saúde e educação no Brasil. Entre as cidades apresentadas estavam São Paulo e Teófilo Otoni, entretanto, a reportagem não mostra o contexto que tem agravado os problemas nessas áreas. Essa postagem pretende levantar alguns dos contextos dos problemas apresentados.



O programa Profissão Repórter apresentou ontem, dia 20 de dezembro de 2017, reportagens que tinham como tema central: Os problemas na formação dos médicos do Brasil, principalmente na USP, na UFVJM da cidade de Teófilo Otoni e na formação de médicos no Paraguai. 

Entre os pontos levantados, foi demonstrado o caos no Hospital Universitário da USP, que por falta de recursos teve o fechamento de um enorme número de leitos, reduzindo o atendimento a população do município de São Paulo e região.

Na cidade de Teófilo Otoni o atendimento aos moradores na área da saúde não está diferente. O hospital do município encontra-se superlotado, com pessoas no corredor, aguardando remédios e operações por mais de dez dias, demonstrando a situação caótica que encontra a saúde nas cidades brasileiras. O atendimento a população mais humilde do país ocorre com descaso como demonstrado na reportagem, por falta de recursos, profissionais, remédios, máquinas para exame entre outros fatores e equipamentos necessários para um bom atendimento. 

Entretanto, em nenhum momento da reportagem foi demonstrado o verdadeiro contexto que tem levado a saúde e a educação a situação atual. Fica claro durante a reportagem que a situação da saúde no país tem deteriorado rapidamente nos últimos meses. Os impactos negativos na USP com relação ao fechamento do pronto atendimento do Hospital Universitário ocorreram no ano de 2017 e na região de Teófilo Otoni, diversos hospitais das pequenas cidades tem encerrado os seus atendimentos nos últimos períodos, superlotando o principal hospital da cidade, que também tem poucos recursos para um atendimento tão numeroso.

Um dos principais fatores ligados ao contexto da falta de recursos é a PEC 241 que congelou os recursos de todas as áreas sociais pelos próximos 20 anos. Quando essa PEC foi aprovada, já havia expectativa de que os nossos sistemas públicos iriam ter uma piora significativa no decorrer dos próximos anos. Com o congelamento dos recursos e o aumento do número de usuários, haja vista que, a nossa população ainda continua crescendo e há um aumento da demanda por uso dos serviços públicos devido a crise, pois as pessoas perdem a capacidade de pagar planos de saúde e migram para o SUS, o investimento para a saúde por pessoa diminui muito, piorando os atendimentos e sucateando os hospitais como foi verificado na reportagem.

A Rede Globo de televisão se mostrou, naquele momento da aprovação da referida PEC, totalmente favorável a proposta, enquanto estudiosos afirmavam que os problemas seriam enormes já nos primeiros anos, mas que iriam ficar ainda piores no decorrer do tempo. Normalmente, o aumento dos Recursos sociais nos últimos anos no Brasil cresciam em uma proporção geométrica, muito acima da inflação, hoje ela vai crescer de forma quase linear, cobrindo apenas os valores da inflação do ano anterior. Ou seja, esses impactos estão apenas começando, tendendo a haver um aumento muito grande dos problemas nos próximos anos, já que a perda de recursos será também geométrica no decorrer dos anos, em um momento em que parte da população está migrando dos serviços privados para os serviços públicos.

O governo, naquele momento, colocava que essa PEC iria melhorar a nossa situação econômica, reduzir o nosso deficit público e, assim, gerar empregos e capacidade de investimentos futuros para o estado. Tudo que vemos de resultados foi o contrário, a situação econômica do país não melhora, tendo o país um dos menores crescimentos da América Latina no ano, o nosso deficit público no ano que vem novamente será maior do que os 150 bilhões de reais, tendo como expectativa pelo orçamento aprovado de um deficit de 159 bilhões. Nossa dívida pública aumenta astronomicamente a cada mês e os investimentos em industrias e serviços patinam. 

Enquanto isso a população sofre com a queda nos investimentos em serviços públicos e a falta de investimentos governamentais, que no ano que vem será um dos menores da nossa história, não trazendo o tão sonhado aquecimento de nossa economia e a geração de novos empregos. Tudo que o governo tem feito no momento foi tentar tirar ainda mais direitos dos trabalhadores através de uma Reforma da Previdência que vai trazer ainda mais recursos para os bancos privados através do aquecimento dos programas de Previdência Privada, enquanto jogaria milhões de pessoas que não conseguiriam se aposentar em situação delicada para a sua própria subsistência em um futuro próximo. Bilhões e bilhões de reais que poderiam estar sendo aplicados na saúde, educação e outras áreas sociais estão sendo utilizadas para a compra de deputados e a realização de propagandas para a Reforma da Previdência e cenas como essas de descaso com a população se repetem em todo o país.

No que diz respeito a formação de nossos médicos, esses também sofrem os impactos da falta de recursos de investimentos também devido aos orçamentos estrangulados das Universidades, reflexo também dos primeiros impactos da PEC 241. O governo não cumpre com as compactuações realizadas pelos governos anteriores, inclusive no que diz respeito ao número de profissionais prometidos por programas como o Mais Médicos, comprometendo o crescimento dos cursos e do número de vagas disponibilizadas pelas faculdades de Medicina criadas através do programa. Ao invés disso, o governo aceita o lobby dos Conselhos de Medicina que pretendem apenas valorizar os salários dos seus profissionais, enquanto a sociedade está abandonada a própria sorte, e proíbe a criação de novos cursos de medicina pelos próximos três anos. A reportagem demonstrou que a administração das Universidades, em alguns casos deixa a desejar, mas a responsabilidade levantada pela reportagem é muito menor do que a responsabilidade dos governos em levantar recursos para essa área fundamental para o desenvolvimento de qualquer nação do mundo. A reportagem também não deixa claro que o atual governo federal é o responsável pelos Recursos direcionados a UFVJM, nesse caso, Michel Temer do PMDB e também não demonstrou que o governo do estado de São Paulo é o responsável pelo levantamento de recursos para a USP, nesse caso, Geraldo Alckmin do PSDB. 

A lógica do governo neoliberal de Temer é que educação como qualquer outro investimento público é gasto e enquanto estivemos nesse modelo de concepção, certamente, os recursos para essas áreas serão cada vez mais escassos. Cabe ao povo entender quem está em defesa dos serviços públicos e no atendimento de qualidade à sociedade e quem está contra isso. A partir dessa compreensão o próximo passo é definir o seu voto de acordo com os interesses da própria população nas eleições de 2018. Votaram a favor da PEC 241 que congelou os recursos da saúde educação, segurança e todas as áreas sociais, partidos como PMDB, PSDB, DEM, Solidariedade, entre outros. Votaram contra a proposta PT, PDT, PCdoB, Rede, PSOL e PMB.

O ponto alto da reportagem foi quando os alunos colocaram a importância da Universidade para as suas vidas e para a região em que estão alocadas. Foi emocionante ver os alunos da UFVJM  demonstrando interesse em continuar na região de sua formação. Esperamos muito que isso aconteça assim que se formarem. A educação tem o poder de mudar o mundo e isso não é demagogia. Todos os países do mundo hoje desenvolvidos chegaram a essa evolução após grandes investimentos em educação. Que os nossos governos entendam a educação como investimento e não como gasto para assim podermos conquistar mais investimentos nessa área tão importante e mudar a realidade do nosso país e dos nossos serviços públicos.

Anderson Silva 

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